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A Meditação deve ser prática complementar no tratamento da ansiedade e da depressão

Desde a década de 60 com os estudos do Dr. Herbert Benson da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, temos conhecimento que a meditação elicia a conhecida “resposta de relaxamento”, tanto física, o relaxamento muscular, quanto mental, que é o relaxamento da “lógica”, do pensamento ou da mente.

Durante e após a prática da meditação ocorre o relaxamento muscular, a diminuição da atividade mental e o equilíbrio emocional, que também é consequência da redução dos hormônios do estresse como a adrenalina e o cortisol.

Quando meditamos conseguimos reduzir e até zerar o grau de ansiedade e estresse, e consequentemente os sentimentos e as emoções se aquietam e podemos estar mais conectados com o momento presente.

Também ocorre a melhora da atenção e do foco, melhorando a produtividade e reduzindo o risco de acidentes de trabalho, além de melhorar o desempenho em provas e concursos que exigem a presença de uma mente tranquila, atenta e focada, o que é impossível se houver ansiedade e estresse que geram uma reação de “fuga e luta” e o famoso “branco” que transforma qualquer esforço prévio em insucesso.

Estudos do Dr. Teasdale da Universidade de Cambridge e do Dr. Goyal da Universidade Johns Hopkins dentre outros demonstraram que em casos de depressão leve e moderada a prática regular de meditação tem tanto benefício quanto os antidepressivos, alivia os sintomas da ansiedade, depressão e dor crônica e reduz em cerca de 50% as recidivas de novos episódios de depressão em quem está ou já esteve em tratamento com antidepressivos.

A meditação pode ser uma prática integrativa e complementar nos casos de depressão já crônica ou grave, quando auxilia a reduzir os sintomas e acelerar a recuperação do paciente depressivo, e também pode ser utilizada isoladamente em casos leves e iniciais dos sintomas depressivos.

Nos casos graves ela fará parte do repertório composto de medicamentos, psicoterapia, hábitos de vida saudável, e especialidades da medicina integrativa e complementar como homeopatia e acupuntura.

Hábitos de vida saudáveis também contribuem muito e são imprescindíveis na prevenção e tratamento da depressão.

O depressivo tem um “excesso de passado” e uma “falta de futuro”. Vive remoendo acontecimentos, mágoas, arrependimentos e não consegue planejar sua vida em direção ao futuro ou tem metas ou projetos que o impulsionem para adiante.

Fazer com que tenha ações e movimentos focados no presente e cuidados ativos com sua saúde estimulará uma nova percepção e redescoberta de seu corpo, de suas emoções e o reconectará com o fluxo da vida.

A atividade física regular e diária, a alimentação saudável e rica em nutrientes, pré e próbióticos que melhoram a saúde do intestino, diminuem a inflamação sistêmica e aumentam sua capacidade de produzir serotonina; ácidos graxos poli-insaturados ômega 3 que estabilizam as membranas fosfolipídicas das células cerebrais, os neurônios, modulando o humor; vitaminas e minerais, que nutrem o organismo; o sono suficiente e reparador que recupera o humor e organiza o pensamento e as memórias; os bons relacionamentos afetivos que nutrem as emoções positivas, fortalecem e dão esperança e motivação; todos estes componentes fazem parte da prevenção e tratamento, não somente da depressão mas de todas doenças crônicas.

A ansiedade patológica é uma das doenças mais prevalentes dos nossos tempos, causada pela aceleração do pensamento, excesso de informações, sobrecarga de problemas, baixa resiliência e falta de treinamento em inteligência emocional.

As pessoas ansiosas vivem no futuro, preocupadas (pré ocupadas) imaginando problemas que ainda não ocorreram, mas que em suas mentes não terão solução.

O ansioso tem um “excesso de futuro”, um futuro tenso e negativo, vivido antecipadamente e que traz sofrimento.

Assim, o depressivo que tem uma falta de futuro (e excesso de passado) e o ansioso, que tem um excesso de futuro, ambos não têm conexão com algo que é fundamental para a saúde mental (e consequentemente física), que é a percepção do presente, a reunião do corpo e da mente, que é o significado em sânscrito da palavra Ioga, que significa União.

Meditar nos reconecta com o momento presente, o aqui e agora e impede ou diminui este fluxo desordenado de pensamentos e emoções negativas voltadas ao futuro e nos posiciona novamente com a possibilidade de agir racionalmente orientados para a solução de nossos problemas.

A prática da meditação traz uma resposta progressiva e agradável de relaxamento. Porém algumas pessoas são tão ansiosas e agitadas que não se sentem bem nem conseguem se aquietar e ficar paradas consigo mesmas sem que alguma informação ou atividade esteja acontecendo para distraí-las.

Para estas pessoas que estão no início do treinamento, e não conseguem ainda se aquietar, a prática de uma Meditação Ativa ou em movimento pode auxiliar e trazer resultados.

Orientamos estas pessoas a meditar enquanto caminham, do seguinte modo: se possível em um lugar tranquilo e com natureza, com roupas mais confortáveis como um agasalho, comecem a caminhar percebendo tudo o que sentem em seu corpo, os passos tocando o chão, om movimento das pernas e braços, o ritmo da respiração, o vento e o ar tocando sua face, tudo o que está acontecendo agora neste momento enquanto caminham.

Olhando para baixo cerca de 45 graus para não se distrair com estímulos externos continue com esta prática pelo tempo que for possível, 10 a 30 minutos, e repita diariamente, ou pelo menos 3 a 5 vezes por semana.

Com a prática vem a melhoria da técnica e os benefícios serão obtidos, a conquista da calma e da paz interior sentidas no momento presente.

Assim como para a depressão, manter bons hábitos de vida, priorizar uma vida saudável auxilia no tratamento e na cura da ansiedade.

Manter uma atividade física regular, alimentar-se com calma e com alimentos ricos em nutrientes, priorizar e ter um sono reparador, além dos relacionamentos afetivos e da prática voluntária em prol de outros são ricas experiências que acalmarão a ansiedade sentida.

A meditação também tem importantíssimo papel na prevenção e tratamento de outros problemas e doenças emocionais, incluindo o estresse, grande vilão da modernidade.

O estresse ocorre quando percebemos que os desafios a enfrentar são intensos, e isto faz com que tenhamos que nos adaptar à novas situações e condições.

A partir do pesquisador pioneiro nos estudos do estresse Hans Selye tivemos consciência que o estresse pode ser algo positivo nos preparando para enfrentar os desafios que nos farão crescer, mas que se não tivermos preparo ou resiliência adequados poderemos não suportá-lo e então o estresse crescerá e se tornará crônico, chegando às fases de resistência e exaustão, desencadeando doenças crônicas que roubarão nossa saúde e qualidade de vida.

Muitos perguntam se a prática da meditação deve ou não ser acompanhada de um profissional.

Se alguém não sabe como praticar algo e quer aprender, seja um idioma, uma prática esportiva, atividade artística ou profissional, e também a prática da meditação, deve ser orientado por um professor ou profissional que tenha experiência para transmitir conhecimentos específicos na área.

Eu oriento grupos de meditação ou pessoas individualmente há cerca de dez anos e observo que no caso da meditação, se houver comprometimento, disciplina e dedicação, em poucas horas de treinamento por semana qualquer pessoa pode aprender técnicas básicas e assim manter uma prática diária de meditação por si sós que irá se aprimorando e qualificando com o tempo, trazendo os benefícios esperados para a saúde e a qualidade de vida.