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Esquizofrenia é uma doença mental. É preciso diagnosticar e tratar – Parte 2

Esquizofrenia é uma doença mental. É preciso diagnosticar e tratar – Parte 2

No primeiro post sobre esquizofrenia, discutimos a origem da doença e os sintomas. Continuaremos agora com outras características e tratamentos. Os pacientes podem levar uma vida normal (ter um emprego, estudar) ou a doença pode incapacitar? Quanto mais precocemente se faz o diagnóstico, tratamento for iniciado e seguido corretamente, e se houver uma rede de apoio afetivo familiar, o paciente pode conseguir manter uma vida normal e adaptada, trabalhando e estudando, embora possam permanecer sintomas residuais.

Na maioria dos casos, com a evolução da doença e a pouca adesão ao tratamento, as crises e recaídas podem causar progressão dos sintomas, declínio do afeto, da concentração, memória e da cognição e o paciente não mais consegue trabalhar ou estudar como antes da doença, chegando ao grau de incapacidade.

Existem diferentes níveis de intensidade da doença?

Como toda doença, a esquizofrenia também pode se apresentar com mais ou menos sintomas, evoluir mais ou menos rapidamente e se agravar em níveis diferentes em cada paciente.

Há sempre múltiplos fatores que determinam estas diferenças, como genéticos, ambientais, familiares, adesão ao tratamento, uso de demais tratamentos como psicoterapia, e outros.

Nos casos de esquizofrenia, quando é necessária a internação?

Geralmente se evita a internação, para manter a rede de apoio e o convívio familiar.

Quando os sintomas são graves com agressividade e risco à segurança do paciente e da família, e não esteja sendo possível manter a alimentação adequada, higiene, e sono, pode se fazer necessária a internação, que deve se manter pelo menor tempo possível.

Qual é o contexto brasileiro das clínicas de internação?

As clínicas psiquiátricas e serviços de urgência psiquiátrica atendem os pacientes portadores de diversas doenças com tratamento para as fases agudas de crise, e tratamento de manutenção sempre que não haja a possibilidade de manter o paciente em seu convívio familiar.

A internação deve sempre se dar pelo menor tempo possível, até o controle das crises e dos sintomas que causem risco, mas a realidade de hoje mostra que muitos pacientes ficam “internados” inclusive em clínicas de atendimento de urgência graças inclusive a medidas jurídicas da família, cronificando sua condição e impedindo sua ressocialização.

Como a psicologia e a psiquiatria funcionam no tratamento?

O médico psiquiatra fará o acompanhamento do tratamento do paciente, avaliando-o periodicamente, ajustando os medicamentos e orientando o paciente e os familiares.

O psicólogo fará a psicoterapia, cuja finalidade é desenvolver no paciente o entendimento de sua doença e da necessidade de tratamento, aprofundar uma rede de colaboração entre o paciente, o médico e sua família, para que aprenda a controlar o estresse e a ansiedade, tenha apoiadas suas necessidades básicas de suporte, empatia e compreensão, auxiliando na manutenção do tratamento, controle das crises e para um convívio social e familiar ao menos minimamente satisfatórios.

Quais os tipos de medicamentos utilizados no tratamento do transtorno? Como é a ação deles no organismo?

os primeiros medicamentos antipsicóticos de primeira geração foram introduzidos na década de 50 e possibilitaram o controle de grande parte dos sintomas da esquizofrenia, com consequência na redução das internações psiquiátricas nos hospitais que funcionavam então como asilos.

Os medicamentos evoluíram e hoje são mais bem tolerados, com menos efeitos colaterais, inclusive com a possibilidade de medicação injetável, que diminui a chance de esquecimento e falta de uso do medicamento da maneira prescrita.

Há os antipsicóticos convencionais que bloqueiam o receptor de dopamina do tipo II de podem produzir efeitos adversos como sedação, embotamento, rigidez muscular, tremores e aumento de peso, além de outros sintomas.

Os antipsicóticos ASG bloqueiam os receptores de dopamina com mais seletividade que os medicamentos convencionais, com menos efeitos motores e maior redução dos sintomas positivos e negativos, com menor embotamento, mas com a possibilidade de efeitos adversos como sedação, taquicardia e até diabetes 2 e agranulocitose.

Os novos antipsicóticos ASG de segunda geração não têm risco de agranulocitose, mas alguns estudos mostraram que seu efeito não foi maior do que com o uso de outros antipsicóticos.

Quais são os outros métodos de terapia que podem ajudar no tratamento?

Além do tratamento medicamentoso e da psicoterapia, treinamentos de habilidades psicossiciais, reabilitação profissional, terapias de suporte e comunitária, e terapias integrativas e complementares como a homeopatia, acupuntura e constelações podem ser muito úteis para o paciente, desde que não se abandone o tratamento convencional.