Câncer, a prevenção e o tratamento requerem um olhar sistêmico!
Leia
Uma aluna minha, advogada, do curso de Constelações Familiares fez a seguinte pergunta que acho interessante compartilhar para comentar sobre as relações abusivas:
“Gostaria de saber qual a visão sistêmica, sobre termos conhecimento de uma agressão contra mulher no ambiente familiar. Isso está mexendo demais comigo. Tenho tentado ficar na minha posição e respeitar a “escolha” da pessoa. Porém, me sinto em conflito com a questão legal e hoje pensei que nesse sentido a Lei é maior do que todos os envolvidos”.
Minha resposta baseada na visão sistêmica:
A reação natural quando testemunhamos um caso dessa natureza é nos indignarmos e sentirmos uma enorme vontade de prontamente resolver essa situação para o outro, salvando a pessoa que está sofrendo e talvez até mesmo punindo o agressor.
Vamos refletir sistemicamente sobre essa dinâmica relacional tipificada em sua questão, (o caso de mulheres adultas e que poderiam se defender mas não o fazem, diferentemente do caso com pessoas realmente indefesas como crianças ou doentes).
Sabemos que em situações semelhantes quando alguém se incomoda, resolve interferir, leva o caso às autoridades ou incentiva essa mulher a fazê-lo e prestar uma queixa, depois de algum tempo a mulher agredida retira a queixa e volta a conviver com o agressor na relação abusiva. Tudo continuará como era, causando revolta naquele que quis “ajudar” que pode até mesmo sentir-se enganado e traído em seu esforço.
Primeiro, olhemos sistemicamente para a pessoa que não consegue sair de uma relação abusiva.
Entra na relação com um abusador supostamente como inocente, porém, ambos fazem parte de uma dinâmica doentia que trazem de suas famílias de origem.
Carregam emaranhamentos com os quais se identificam, os une como parceiros e replicam a dinâmica doentia.
Todo abusador foi abusado ou se identifica com abusos no seu sistema familiar.
A pessoa agressiva sofreu agressões que geraram traumas, ou podem estar ligados a traumas herdados transgeracionalmente.
Só sabem se relacionar dessa maneira, são ao mesmo tempo agressores e vítimas, não conseguem viver relações saudáveis, fazem sofrer e sofrem em sua dinâmica doentia de relacionamento. E aqueles abusados e agredidos que não saem da relação são tão doentes quanto seus parceiros agressores e abusivos, já que numa relação existe a “Lei dos 50%”.
Essa lei sistêmica determina que cada um é responsável por exatamente metade de tudo que acontece de bom e de ruim na relação, ambos são corresponsáveis pelo relacionamento que criaram e mantém.
Uma relação abusiva é uma relação do tipo Triângulo Dramático (TD) descrita pelo psicoterapeuta Karpmann, da Análise Transacional.
Os 3 polos dessa dinâmica doentia são a Vítima, o Vilão (ou Agressor) e o Salvador.
O que acontece quando nos envolvemos nessa relação querendo obrigar o outro a aceitar nossa “ajuda”, é que entramos na triangulação, assumindo a função de Salvador, num primeiro momento, porém, podemos estar certos que os papéis ou funções do Triângulo Dramático (TD) se revezam, como no caso acima descrito, e a relação doentia não tem fim.
Se somos o Salvador em nossa família ajudando sempre as Vítimas, em uma ocasião que não podemos fazê-lo nos transformamos prontamente em Vilões, e passamos então a nos defender das acusações que nos fazem, agora no papel de Vítimas da ingratidão daqueles a quem sempre ajudamos… E por aí vai.
Não há fim para esse ciclo vicioso em nenhuma das funções do TD. O Triângulo Dramático (TD) é sucesso nas novelas, músicas, reality shows e representa o arquétipo das estórias de super heróis. Esses passam todo tempo salvando as pobres vítimas dos vilões, mas não têm vida própria, não conseguem se casar ou assumir um compromisso pessoal.
Ou alguém viu dar certo o casamento do Super Homem com a Lois Lane?
Cuidado, pois se você vive próximo a alguma pessoa que assume uma posição de Vítima, muito provavelmente será convidado a assumir o papel de Salvador, ou talvez do Vilão.
Certamente se uma mulher nessa situação estiver correndo perigo de vida, enquanto cidadãos devemos fazer nosso papel de denunciar e ajudar, inclusive nesse caso citado, devemos chamar a polícia ou as autoridades competentes e evitar que algo pior aconteça.
Quando uma mulher se submete a uma relação abusiva, e conforme eu disse “poderia se defender mas não o faz”, significa que se coloca nessa situação por não conseguir fazer diferente e permanece numa posição de vítima, infantilizada necessitando que outros assumam o papel de adultos por ela, que não consegue fazê-lo.
Devemos no caso da urgência proteger essa pessoa. Após, devemos convidá-la, assim que possível, a olhar para a dinâmica que gerou sua relação doentia e se ela quiser, ajudá-la como adulta a sair.
Como no caso exemplificado, dessa mulher de sua família que sofre abuso, se couber nesse exemplo, cuide para que você não seja a salvadora, mas sim ofereça Ajuda Sistêmica, nos moldes que aprendemos com Bert Hellinger no livro “Ordens da Ajuda”. Veja o outro como adulto, olhe a situação sistemicamente, não se julgue melhor que ela (ou que seus pais), não pense que saberia sair da situação de uma maneira melhor, aja com compaixão sistêmica.
Lembro que casos de relações abusivas acontecem também com homens, inclusive que se colocam em situações de agressão física. A dinâmica sistêmica de abuso acontece independentemente de ser homem ou mulher.
Quando for convidada a participar de qualquer relação no formato de Triângulo Dramático (TD), reflita antes de aceitar. Só se envolva trazendo soluções saudáveis, não agravando as dinâmicas doentias.
Além de nossas famílias, como terapeutas, advogados ou pedagogos devemos estar muito atentos para não nos envolvermos dessa maneira nas relações ou as agravaremos e nos emaranharemos junto aos nossos clientes, pacientes e alunos.